Há algum tempo atrás enterrei no quintal de casa, debaixo da árvore apodrecida que meus pais se recusavam em arrancar, uma ciaxa velha. Não decorei a caixa como a maioria das pessoas costumam fazer ao enterrar algo especial, colocando meticulosamente seus pertences numa caixa insuportavelmente enfeitada. O que eu enterrava naquela cova -nem funda,nem rasa- não era especial, não era bom, não era algo que eu pudesse conviver. Eu não poderia coexistir com isto.
Ninquém notou quando eu me ajoelhei na terra ainda úmida pelo orvalho da noite passada; meus pais estavam ocupados demais em suas tarefas costumeiras para observar qualquer atitude estranha ao redor e meus irmãos sempre estavam dispersos em suas agressões mútuas ou, paradoxalmente, entretidos em um jogo novo no computador. Eu sempre fui a mais distante nesse quadro pintado e malfeito que era minha vida. Ao menos, eu não precisava ser ainda mais discreta que o normal, ninguém nem chegaria perto de notar a minha ausência. Encontrei encostada na parede dos fundos uma pá usada na manutenção da pequena horta um pouco afastada da sombra que os galhos secos e retorcidos da árvore produziam. Foi com esta pá que abri um buraco necessário para se enterrar uma caixa. Fiquei grata por ser cedo e grata por o calor do Sol ainda ser suportável. Eu não iria resistir a outro dia como este. Não precisava verificar a caixa, eu nem precisava me despedir, sabia que ali dentro estava tudo que eu não precisava mais, tudo que um dia havia sido essencial e que agora mata-me um pouco mais a cada pôr-do-sol. Eu estava morrendo! Sabia disso e sentia o fim com cada célula do meu corpo. Não era um morrer físico, era pior. Morria em mim, morria para a garota entusiasmada e bem disposta que havia sido. Você me levou tudo...Levantei apoiada na pá e com muita pressa enterrei todas as promessas de um futuro feliz.
E no momento em que te enterrei decidi viver! Eu dicidi, mesmo que fosse só um reflexo pálido de quem eu sabia ter sido há extamente um ano. Há 1 ano... 1 ano, você me beijava... sussurrava meu nome e com toda convicção me dizia 'adeus'.
1 Comentário:
Até aqui já seria ótimo!
Vou ler as outras partes :)
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