Para às interrogações do amor que escrevo em uma carta.

Porto Alegre, 13 de Julho de 1994.


Querido Benzinho,
Quando acordei essa manhã e vi sua rosa solitária enfeitando o lado vazio na cama, soube que algo estava errado. A rosa delicada, escolhida para me fazer suspirar ao pensar em você ocupando, para sempre, àquele lugar entre os lençóis não me fez mais feliz que o normal.
Continuei deitada ali sem atentar para a hora que passava ou o vestido branco que estava à espera do meu bem querer e do meu amor.
Meu amado; por anos sonhamos com o dia que mudaria infinitamente a vida que compartilhamos juntos, mas não fomos capazes de perceber que a mudança já se fazia presente nos gestos, nas palavras e em cada noite que fomos apenas eu e você, sem máscaras.
Prendemos-nos ao rótulo comercial da felicidade permitindo que o presente fosse um mero rabisco perante o futuro que desenhamos e pintamos com técnicas perfeitas.
Sinto em dizer que não me verás entrar nessa igreja e ir ao seu encontro. Não escutarás a minha voz proferindo os juramentos eternos e os meus beijos, como esta carta, permanecerão selados aguardando o seu toque.
Não há em mim desejo para transformar em realidade essa fantasia infame...
Eu quero de volta a alegria dos momentos sinceros e a leveza de espírito que essa união de fachada não pode me dar.
Você é o único senhor do meu coração e eu serei sua até o fim, se assim o desejar; mas eu não irei fazer parte do seu jogo para pôr as mãos na herança dos meus pais.
Perdoe-me por não ser capaz de dizer antes o meu desconforto e a minha descrença sobre esse casamento. Perdoe-me por te fazer passar pela humilhação de ser deixado sozinho no altar, entretanto, você precisa repensar seus valores. Se for capaz de viver sem esse dinheiro que só nos trouxe mágoas poderás voltar ao aconchego dos meus braços.
Espero-te em nossa casa; só assim será possível resgatar a essência do amor que nos bateu à porta no nosso antigo 13 de Julho. A porta estará aberta e eu aguardarei ansiosa para que você ocupe, sempre no presente, o lugar da minha rosa solitária.
E eu ainda espero a sua resposta para o meu amor de uma vida inteira, apesar de tudo.

Com toda a minha simplicidade, Lavínia.

Texto vencedor da 61ª Edição Musical - Bloínquês. Nota 10.

2 Comentários:

Inercya comentou:

Awn, que carta linda!
Eu até ia deixar pra ler depois, mas hesitei em fazer isso. Um ótimo texto, algo quase real. Gostei muito, Rebeca. :)
:**

Anônimo comentou:

Uau, muito legal o texto, aguçou minha imaginação ... :D

 
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