Permanente.

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A ladeira com pedras soltas não me ajudava em nada na fuga em abandonar aquele castelo sombrio.
Caleb estava tão perto que poderia tocar em seu cabelo negro e comprido esvoaçado pela noite de brisa suave e luar encantador.
Ele gritava meu nome numa fúria nunca vista e pelo caminho perigoso de volta à cidade, nem um arbusto sequer me daria o abrigo necessário para escapar das suas garras predatórias.
**
Há uma semana, o bar do Taylor recebeu uma visita inesperada. Um garoto branco como o giz e com os cabelos tão negros como a noite em lua nova. Eu estava tomando uma coca-cola e comendo batatas fritas quando ele me puxou para dançar.
Não sei como a música surgiu naquele bar; no momento em que segurei sua mão uma melodia forte penetrou no local e sem ter noção dos fatos me vi ser conduzida por um garoto totalmente estranho.
A música era envolvente, forte, com uma bateria intensa e uma guitarra ensurdecedora.
Em meus encontros com garotos, eu prefiro algo mais calmo, romântico e não um rock dos anos 70. Mas de qualquer lugar que tenha vindo àquela música, eu sabia que não era uma música normal. Ela trazia muito mais que simples notas.
Deixei-me gargalhar nos rodopios no ritmo da dança e deixei que seus dedos memorizassem cada centímetro do meu quadril.
Ser desejada sempre fora o meu fraco, eu não iria dizer "não" quando ele estava fazendo tudo que sempre me deixava tonta, sem foco. Mesmo cheia de dúvidas, volto o pensamento para essa caçada sem sentido; o desespero chega violento quando não há saídas. E mesmo que eu corra com toda a força das minhas pernas, o meu temor me alcançará.
**
Caleb continua gritando meu nome como se eu fosse a última pessoa na Terra, disparando meu coração a cada instante que me vejo presa em uma dor permanente nos seus braços.
Permanente; essa é questão. Ele me quer para sempre e isso eu não vou permitir. Gosto dos flertes, dos beijos e dos sussurros maliciosos no ouvido, mas não sou uma garota namorável. Nunca fui e fico contente. Sempre posso me entreter com quem quiser e saborear dos prazeres sem o tão letal compromisso.
Nunca procurei pelo homem certo e nunca acreditei que houvesse um destinado a mim e por essa razão, vivo sempre no presente e o que passou enterrado está.
Grito por socorro quando encontro a rodovia perdida entre as árvores que cercam a antiga mansão. Ele foi bastante esperto ao me trazer para o lugar mais afastado da cidade, isso eu não poderia negar.
E enquanto corro sem me permitir olhar para trás, vou planejando uma forma de me livrar de uma vez desse garoto que deseja inumanamente me possuir.
Gostaram do conto? Pode ter uma continuação, vai depender da aceitação dele por vocês. Então, leiam de verdade e comentem para eu poder escrever mais se esse for o caso. E esse texto também é para cumprir minha promessa de que faria um texto com o estilo musical mais votado aqui no blog. Como o Pop Rock/ Rock levou o 1º lugar, esse foi o texto com o tema para vocês. E é também meu 1º texto para o Projedo How Deal. Beijos

Intrínseco.

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Tenho o direito de ser... Não um ser qualquer.
Tenho o direito de ser, mesmo não sendo demasiadamente forte, mesmo não tendo a sua coragem e a certeza que te impulsiona a ir sempre em frente.
Não quero ser apenas!
Se tudo fosse somente o existir, o estar aqui e o andar entre as multidões, preferiria eu não ter essência, nem casca, nem volume ou forma.
Se for para coexistir contigo que eu faça de ti um pouco mais de mim e mostre as minhas fraquezas e minhas verdades.
Não seria para você uma doce ilusão e nem faria dos teus dias menos ou mais.
Tenho o direito de ser... Se for eu confusão ou clareza, enigma ou solução, desejo ou repúdio, ódio ou amor, somente você dirá.
Terá apenas o meu mais insensato e irracional sorriso, porque o que me compõe e o que me eleva ou me rebaixa guardo para os que amo e os que tem em mim um lugar onde se apoiar.
E se o meu ser te incomoda, te leva a cólera ou qualquer outra forma pessoa tua de exaltação, não vejo motivos para ainda continuar aqui me cercando, analisando e rindo das piadas mal contadas que deixo sempre reservadas para ti.
Sou! E se isso não basta, não sinta-se preso, você pode ir agora!
A sua ausência ou presença já não me pertuba mais.
Serei para ti aquilo que merece: nem ponto, nem vírgula ou exclamação. Nada.

Ps: Um texto do ano passado. Foi usado para expressar tudo que eu sentia, sem que eu precisasse dizer palavra alguma.

Temário'

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A vala carrega o sangue desconhecido. Na nitidez o bueiro me parece assustador.
Ali dentro a cor sanguínea dilui na água corrente e desaparece. Dito e feito. Preto no branco.
Uma silhueta perde-se nos prédios ao lado norte da rua; identidade preservada.

O mugir assustado das vacas arrepia minha nuca e me sinto claustrofóbico sob claustro normal. Os restos do feto trucidado flertam com outros restos quaisquer no esgoto e o ricochete de uma bala rompe o silêncio de um cenário antes bucólico.  - Psíquico humorista!

Arrasto-me rijo até o velho roçado. Pessoas acordam e ligam os carros, acendem os faróis; iluminação precária. Já é tarde, horário tedioso. O chacareiro, de vigia, faz relatório aos demais sobre a noite espantosa. Em verborragia descreve um sicrano, mas a única coisa que sabe é que o tal sicrano é homem e por desavença passada acusa o moveleiro de ser o autor e co-autor do crime. Dos crimes, uma noite... Ninguém reparou nas marcas de sangue enfeitando o asfalto.

Ladeado pelo horror, colérico por vocação, ergo os olhos no meu esconderijo e encontro o foco na carapinha feminina desalmada. Em minha sólida agudez, reconheço mais ao longe o carão da moça desossado.  - Duplo assassinato.
Julgá-la-ia como autora do aborto, mas em tal circunstância não posso afirmar. Violaram-lhe o útero, o teleósteo, o occipital. Foi o sicrano, sem dúvida. Como um copista pérfido, arrasou a vítima de forma radical e tenaz. Jogou a defunta sobre campo denso perto do canteiro de violáceas e em comoção, o vira-bosta decompõe suas sobras. Ela não mais será a lactante de sorriso aberto. Será agora alimento de besouro em ovo novo.

- Patife; eu encorujo e fico a esperar. Sem mover músculos, sem o dom da fala, reservado. Um tecnocrata asfixiado pela sua tecnocracia. O lábaro não existe para quem tem o pé no chão e aduzido como estou vou a bambolear de volta a clausura dos fatos recentes, marcados a ferro e fogo nas entranhas da minh'alma.

Como um homem provocado em ferida aberta, chorei a dor do crime. Vomitei o estômago fraco em agitação. - Lágrimas perenes, provérbio anulado, extinto.
A única luz agora provém do corisco, e em tentativa de dormir floreio um amor-perfeito na borda de um ofício desgastado.
Espasmos violentos me chegam em socos no instante em que o pastiche da parede ganha versão renovada. Beijo, em delírio, uma face mutilada e em variação de personalidade retiro do bolso a pistola herdada; vejo-me arrancar entre dentes aquele filho bastardo e meter um tiro na testa da jovem grávida.

- Dedicado a um leitor do blog que me inspirou a escrever textos mórbidos -

O dez de lata.

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Caminhando pela calçada movimentada.
Contemplando as vitrines. De nariz erguido, corpo ereto.
Entra e sai com seu salto de verniz; não usa cartão e só passa cheque.
As sacolas nas mãos já não cabem. Sobre a cabeça mantêm evidente o seu chapéu vintage.
Rebola com ar superior. Suspira indiferente.
Os que admiram seus segredos expostos no decote largo e na saia justa são meros fantoches;
Marionetes de bolsos fartos.
Gabriela, ela diz a um. Ana Clara, responde ao outro. E segue soberana.
Mudando, ganhando, comprando ilusão.
Olha a nota que conquistou com o último cliente. Respira o odor convencional de cédula usada; repassa.
Repassa a cara, o corpo, a alma! E como repassa.
Encontra uma butique de estilista francês. Calcula mentalmente o que lhe sobra na bolsa.
Entrega a nota desgastada com as demais notas novas. Preenche o pulso com mais sacolas como por pulseiras.
Delira. A cena é agradável, ela prospera; foi o previsto.
Alcança a lanchonete barata onde pode contar suas moedas. Tudo é máscara.
Pede um café com leite e um cigarro. Bebe enquanto fuma.
No banheiro fétido limpa a face e restaura- a em nova identidade.
Acentua suas linhas de expressão. Aperta bravamente o espartilho.
O garçom, seu cúmplice, fica à espreitar do balcão. Reconhece as moedas deixadas por ela.
Põe-nas em potes distintos. Tudo é máscara, ele sabe.
Recolhe uma nota solitária um tanto queimada pelo cigarro ainda aceso.
Guarda-a no jeans sujo. Coleta outra nota de lata e leva susto. Aquieta-se.
Esconde entre seus pertences cada sacola dela.
Tem consciência que a recompensa não demora a chegar.
Analisa a burguesa sedutora saindo pelos fundos do estabelecimento.
Imagina o momento em que a lingerie vermelha completará seu espaço vago na boca.
Delira. A cena é agradável, ele se satisfaz; foi o previsto.
As pessoas na rua reconhecem a moça como elegante, alta classe, podre de rica.
A esquina reconhece a mulher que ocupará apenas mais um lugar sob poste.
E rindo dela, de si e dos demais, o garçom reconhece a garota.
Mais falsa que o dez de lata que ele pôs no caixa.
Limpa uma mesa, esfrega um chão.
E seguimos nós em nossas máscaras.

"Permaneço eu com os segredos mais secretos.
Com os desejos mais malévolos.
E os pensamentos repletos dos mesmos demônios
que visitam você a cada noite escura de frio crescente." - R.C.S

Brincadeira de Oompa Loompa.

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Os grãos finos daquela areia macia lentamente traziam a tranqüilidade esperada.
Observei um menino bonito ganhar espaço com sua fala mansa.
O mar estava tão calmo quanto uma pintura de parede da sala e me vi ficar feliz. Em paz.
Dei as mãos ao moço que malevolente me conquistou.
Joguei-o em águas profundas e atirei-me em busca severa.
Nossos risos conquistando a pasmaceira daquela cena; os corpos preenchendo as lacunas impostas pelo mar.
E deu-se o ponto de fusão. Ebulição, explosão!
Inebriante, intenso: quero mais!
Lembro exatamente das minúcias e guardo as marcas de um amor convicto.
Elas estão em mim e além. São presentes e jamais passado.
Frente a esse oceano de Abril percebo a infantilidade que me compunha. Em paralisia escuto as vozes, sinto os gostos, mas já não me misturo.
Acordo extasiada na esteira. Olho o vasto céu azulado, bebo da brisa salgada e em volta nada mais há.
Todos os dias, no mesmo lugar, esse sonho me alegra.
Em decadência minha. Em perda de espírito. Em vontade de possuir.
Mas sei que isso não passa de uma brincadeira mental perversa.
Brincadeira de Oompa Loompa.


- Para quem assistiu ao filme " A Fantástica Fábrica de Chocolate" -

Lá na casa.

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Aqui na minha casinha de cera eu perco o sono.
Viro menininha doce; inocente.
Sirvo chá aos visitantes.
E arrumo a cama sempre que alguém precisa passar a noite.
Aqui na minha casinha de cera as janelas ficam abertas.
E aqui na casinha sou de cera como o resto.
Sou valente, sou astuta. Sou bem grande, sou gigante.
Varro os cômodos e tiro o pó.
E deixo tudo cheirando a ameixas.
Na casinha espaçosa quanto bela.
Na casinha rosinha e amarela.
Na casinha, minha casa. Toda minha!
Aqui na minha casa de cera eu perco o sono,
e tudo que eu quiser, será!

Escolha sua!

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Fiquei bastante feliz com as participações da última enquete realizada. Eu nem achei que teria tantos votos!!! Eu vou permanecer com esse layout já que foi super bem aceito por vocês.
Aqui você também faz o blog!
Participem da nova Enquete e o (s) tema (s) vencedor estará em um dos meus textos.
Ainda não sei o estilo literário, mas vou tentar fazer algo interessante.
Recado dado, beijos a todos!

=*

Ps: Leia o texto "Abstrato", sua opinião é importante.

Abstrato'

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Parte II

Queridíssimo amigo diário; você é tudo o que me resta. Eu tenho medo do escuro também. Deixe o abajur aceso quando partir. Faça isso por mim. Por favor.
Eu chorei, confesso. Havia um casal na minha porta. Não estou mentindo, juro! E eles sim, verdadeiramente, se amam. Mas precisei entrar, trancar a porta com as sete chaves. Você bem sabe o quão pouco gosto de invasão.
Diário, não sei fechar os olhos. Como pode? Não sei como dormir. Eu já não sei muitas outras coisas...
Querido Diário, ainda está aqui? Você ficou mudo, estranhei; só isso! Você tem paixão em comentar. Calma, não fique irritado, eu sei que é fiel. Só não estou bem, esqueceu?
Amigo! Achei uma foto que colei em você num dia passado. Foto legal, um belo par de amantes, pessoas sorrindo. Quem são eles? Não, não conheço não. Eu já te disse que não! Peculiar, não acha? Eles estão no mesmo jardim que eu fui ontem. O jardim que mencionei há minutos atrás. O casal dorme abraçado na foto, deitados sob uma sombra generosa e sobre o gramado verde. Tenho a impressão de ter visto a cena, mas falta-me certeza. Gostaria de saber quem são; o garoto da foto... Eu acho que conheço. Como é?! Eu conheço? Não Diário, não conheço não! Ou será que conheço? E isso importa? Sou eu na foto?! Você pirou? Não poderia ser...
Meu querido e único amor; pára de esfregar na minha cara o quanto eu fui feliz. Pára de debochar de mim, do que me tornei.
Meu... E por Deus não me estenda mais a mão. Eu quero cair e permanecer. Eu prometo que se o fizer irei recusar. Escrevo-te hoje e que leia na imediata hora: não serei mais teu ombro amigo.
Meu estúpido Diário! Fui fiel até aqui. Amanhã não haverá. Não fique a minha espera no nosso altar. Agora, se me permite, eu vou pregar os olhos. Tentar o sono e o sonho em acordar melhor. Talvez encare o meu reflexo, talvez vista uma roupa num tom vermelho e tire dos olhos a lágrima. Talvez coloque na boca um sorriso de bom gosto. Mas tudo isso, se por acaso, eu realmente acordar.

- Dedicado ao meu amigo dos momentos incertos. -

Abstrato'

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Parte I

Querido Diário; acordei estranha nessa manhã. Eu não consegui ver meu reflexo no espelho. Assustei-me. Permaneci parada por alguns instantes tentando manter minha sanidade e mesmo assim não pude encontrar explicação plausível. Tomei um banho rápido, vesti minha jaqueta de couro preto por cima de uma blusa branca qualquer. Usei a meia-calça de bolinhas que ganhei de aniversário. Usei também um mini-short jeans combinando com as botas de combate e a maquiagem pesada.
Realcei todas as expressões e mesmo assim não foi possível enxergar-me.
Querido Diário, eu me sinto mal agora. Triste. Uma profundidade em dor desconhecida, sem causa. Completamente vazia. Estou sozinha nessa madrugada enquanto conto-lhe o meu dia.
Meu mais fiel amigo perdoe-me por ter rabiscado e arrancado todos os meus versos. Tudo que havia escrito em ti. Mas eu me enchi; estava cansada de mim mesma. Lembro-me de pegar um ônibus na tarde passada e de descer em um lugar bonito, com árvores enormes cheirando a fruta fresca e com uma fonte colonial no centro como num jardim. Desculpe-me, eu não sei o nome do local e não sei mais como encontrá-lo. Ah! Conheci alguém diferente na tentativa de deixar o lugar. Um rapaz alto e sereno como os fins de tarde. Ele me estendeu a mão, sabia? Prendi o pé numa raiz antiga e cai rolando feita bola solta em ladeira. Ele limpou meu machucado, acredita?
Isso mesmo! Não sei de que forma, mas ele estancou uma ferida que sangrava. Não sei como...
Meu confidente, você pode me entender? Aceitar-me? Explicar quem sou? Conviver comigo? Desculpa de novo, sei que são muitas perguntas e não precisa respondê-las agora.
Tenho a sensação de “barriga-cheia”. Sério! Devo ter comido uma besteira numa esquina ou num bar. Sei que não demorei muito, já que minhas roupas não trouxeram nada indicando que não permaneci muito tempo lá. Fuçando a bolsa encontrei entradas para o cinema. Só não posso informar o filme, mas garanto-lhe que assisti um.
Meu menino, eu sei que fui falha em te afastar da minha vida e perversa quando tentei te queimar. Eu não tenho as velhas palavras e a minha caligrafia não é mais da mesma forma, virou passado. Não tenho nada a dizer-lhe. Tudo que eu tinha deixei num vômito ao entrar nessa rua nova. Rasguei minha meia, pode imaginar isso? Vovó Lilá que deu. Ela criaria bico seguido de cara feia se soubesse. Já são 2 horas e se continuar como estou não acordarei no horário previsto. Preciso me acordar cedo, ou melhor, preciso não acordar tarde.
Querido Diário; tenho medo. Muito medo do que eu posso ver quando sair da cama e encarar novamente o espelho. O espelho revela tudo, será? Revela o oculto? O avesso? O que vai dentro de nós? ... Eu e minhas perguntas capciosas. Ora pois; não pedi que respondesse. Então permaneça quieto. Apenas ouça, guarde.

[...]

Pente Fino!

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Pedras soltas rolam ladeira abaixo.
Sem piedade. Sem compaixão.
Ganham velocidade máxima ao deixarem o morro no fim da rua.
Arrasam as casas, modificam a paisagem.
Transformam as belas formas cotidianas
das casas mal pintadas em amontoados de destroços retorcidos.
E vai levando. Invadindo.
Tapando buracos enquanto abrem outros.
A chuva condensa o solo.
E mistura-se. Incorpora.
Transborda o rio. E vai seguindo.
Encontrando.
A lama cobre tudo.
Tão dura quanto o barro do sertão.
Marrom, marrom. E vai crescendo.
Acalmando. Silêncio profundo.
Pedras soltas rolam ladeira abaixo;
A chuva condensa o solo;
A lama cobre tudo.
E já não se sabe o que é mato.
O que é pau, o que é viga.
O que é cidade, o que é gente.
Fica apenas um novo morro.
Novinho em folha de cor vibrante.
Mas sabemos bem que lá em baixo,
sufocados, jazem os corpos da população.

Para a Srª Cathy !

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[...]

"E ante isso você pode notar bem a diferença que existe entre os nossos sentimentos: se ele estivesse no meu lugar e eu no seu, e embora eu o odeie com um ódio que me encheu de fel a vida inteira, jamais ousaria erguer a mão contra ele. Pode se mostrar incrédula à vontade! Nunca o teria afastado, se ela o desejasse ver. No momento em que a proteção dela desaparecesse, eu lhe arrancaria o coração do peito e lhe beberia o sangue; mas até então - se você não me acredita é porque não me conhece -, até então eu morreria aos poucos, de preferência a arrancar um cabelo da cabeça desse homem!"

[...]

"Duas únicas palavras seriam a suma do meu futuro: morte e inferno. A vida, depois de a perder, seria o inferno. E, assim mesmo, andei tão louco que cheguei a crer que ela dava mais valor ao amor de Linton do que ao meu."

Cap. XIV

O Morro dos Ventos Uivantes - Emily Brontë

Essa fala é de Heathcliff sobre o amor por Cathy e sobre seu ódio por Linton. E a primeira parte é a mesma fala que Edward Cullen [Twilight] usa numa conversa com Bella Swan, para demonstrar seu amor e em outra ocasião, para demonstrar seu repúdio por Jacob Black.

Ps1: Leia a postagem anterior para compreender o sentimento que tenho por esses trechos e para entender o motivo por trás desta postagem.
Ps2: Se eu não respondi o seu comentário alguma vez, não pense que foi esquecimento ou desleixo. Eu não estou conseguindo comentar em blogs que usam palavras de confirmação. Leia meu texto explicativo ao lado >>>> e saiba o que pode estar acontecendo no seu blog, ou não.

 Minhas aulas no pré-vestibular começaram, então, estarei ativa em textos nos finais de semana.

=*

Para Heathcliff !

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É ele a minha grande razão de viver. Se tudo perecesse, mas ele ficasse, eu continuaria a existir. E, se tudo permanecesse e ele fosse aniquilado, o mundo inteiro se tornaria para mim uma coisa totalmente estranha. Eu não seria mais parte desse mundo. Meu amor por Linton é como a folhagem dos bosques: o tempo a transformará, estou bem certa, como o inverno muda as árvores.
Meu amor por Heathcliff assemelha-se aos rochedos imotos que jazem por baixo do solo: fonte de alegria pouco aparente, mas necessária. [...]
Ele está sempre, sempre, em meu pensamento. Não como um prazer, visto como nem sou um prazer para mim mesma, mas como o meu própio ser."

Cap. IX

O Morro dos Ventos Uivantes - Emily Bontë.

Ps: Eu postei esse trecho do livro logo quando fiz o blog, então quem me segui desde o início sabe bem. Mas ele é perfeito. Todo o livro! Sua melancolia, seus segredos obscuros, seus amores de causas impossíveis. Esse é o motivo de postá-lo novamente. Porque ele me faz crer em um amor maior do que a racionalidade e, para mim, essa é a razão do livro valer a leitura um tanto cansativa do século XIX.

*Atenção*

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Leitores amados! Todos os conteúdos dos meus textos são originais. Todos, sem exceções.
Quando eu cito uma frase, um trecho de música, ou um texto de outra pessoa, eu coloco aqui no blog o devido reconhecimento de quem os escreveu. É simples fazer isso. Não dói nada.
Você apenas precisa ter consciência de que o escrito pertence a outra pessoa e na categoria "outra pessoa" não encaixa-se você.
Então, todos os textos sem assinatura são meus! Meus! E isso me dá o direito de fazer o que eu bem entender deles. Dá o direito a mim.
Única e exclusivamente.
Estou um pouco revoltada, como vocês devem estar percebendo. Mas tenho motivo. Encontrei frases de textos meus em outros lugares e fiquei chateada. Não porque usaram minhas frases, eu fico honrada em saber que as pessoas se identificam com o que escrevo, mas por não ter o crédito merecido.
Atenção aos leitores deste espaço. Eu farei muito mais do que colocar uma sutil nota no meu blog da próxima vez que isso acontecer. Plágio é crime e eu não serei tão compreensiva.
Esse é o meu recado do dia!

Beijos a todos.

Atenciosamente, Rebeca C. Souza.

Verdade Absoluta'

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A ampulheta é o meu fiel registro!
Registra tudo, cada grão constante, cada passo dado; aproximação.
Acelera contratos, assinala interrupções imperiais e, promove conflitos e tréguas com o menor dos fins.
Não falha!
Se aliança ao tempo, desfaz o corrompido relógio e aliena o já alienado presente.
Diz respeito ao que virá. Não futuramente ativo, entretanto não deixa de conduzir com dedos de linho e seda à sensação de proximidade.
Ampulheta é vidro fino, areia certa. Não camufla contagem, não encobre rastros.
Fixa necessariamente o oculto. Independe ela ao que governa.
É aconselhamento soberano usado por Deus. Sem compactações; se compactada for, quebrada há de ficar.
Retira prioridades e divide acontecimentos: antes e depois.
Sem código genético, componente ilusório! É invenção e não maquinário humano.
É artefato e isso difere. Manuseio atento, delicado.
Uso-a como arquivo vivo meu. Repara-me os pedaços, me conta em conta-gota, me desintegra minuciosamente e me põe inteira em novo ciclo giratório.
Ampulheta é isso! Ontem, agora e bem provável que seja amanhã.
Sem resquícios de contar segundos. Com afinco e coragem me marca por presença.
Confeccionada em mãos místicas. Na mágica inodora frente luminária acesa captando os detalhes, preenchendo a peça na percepção de oleiro vidente.
Que me visualiza mente, espírito e coração, virando ora acima ora abaixo, eu que sou a ampulheta registradora de terra branca e sangue forte, de espectro que caminha para um corpo habitar.
Céu no topo e inferno na base mesmo sabendo que uma hora a ampulheta inverterá.

Que emoção!

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Eu sei que isso é muito besta da minha parte, mas eu participo da comunidade Bloínquês há muito tempo e sempre ficava em 4°/5º lugar nas edições que eu participava. O que não é ruim porque os textos são muito bons e ficar entre os cinco primeiros é grande coisa.
Acredito que tenho amadurecido na escrita e por isso tenho conquistados colocações melhores.
Conquistei o 2º lugar na edição Conto/História e na edição Musical [eu amo a edição musical] nesta última semana.
Fiquei bastante feliz!!!

Desculpa  a postagem tão... enfim, é isso.

=*

O pensamento lá em você'

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Duas fotografias foi apenas o que restou. Levanto da cama e coloco os meus pés no chão frio; o chinelo velho que você tanto gostava desapareceu em meio às mudanças. Sobrou no quarto uma lembrança vaga de que um dia você esteve aqui.
No banheiro não encontro aquele seu batom coral que eu implicava só para pode te ver sair do sério e sem esperar, retirá-lo dos seus lábios com um beijo feroz.
Os cabides no guarda-roupa permanecem desocupados. Esperando que perceba o erro de partir; ficam à espreita do retorno como eu.
A sua escova de cabelo continua no carpete, no mesmo lugar que você deixou em sua tentativa de me acertar a face.
A última briga...
Não ocupo o lado vazio no colchão e o frio nos lençóis retira-me o calor; fico semi vivo, semi morto. É como tentar pôr terra numa cova sem fundo.
A sala, detalhadamente, registrou seu cheiro. A cada brisa suave atravessando o cômodo me traz seu sorriso brando, seu olhar sapeca e aquela pitada de essência de pitanga dos doces que você costumava confeitar.
Na cozinha encontram-se os milhares de cacos de louça da xícara que te dei em nosso primeiro aniversário de namoro. Ela era a metade da minha, as duas compondo um coração. Você atirou-a aos meus pés e seus pedaços vermelhos ainda preenchem os espaços no piso branco.
Nada mais será como antes. E agora mesmo, nada se encontra no mesmo lugar.
Os seus pesos de papel perderam o foco com o tempo. Suas cartas alimentam as traças e seus últimos livros jazem num baú no sótão da casa.
Eu sou outro homem sem você aqui. Não preservo mais a infantilidade atraente, as brincadeiras maliciosas e o meu jeito sedutor. Fiquei na lembrança de quem fui.
E de todos os móveis, pedaços, partes da casa; de todos os fatos e tempo vivido por nós, prendo-me na dor que é a sua falta.
Nada que eu possa fazer me colocará cara a cara com você; não mais.
Contento-me então. Pois você, minha amada, foi a única que amei.
Sobrou-me o continuar a existir. Mas já é hora de voltar a você.
Sento em nosso balanço no quintal e recordo do tempo em que as crianças brincavam distraídas ali. Dou um impulso fraco e acompanho o ritmo do movimento. Visualizo você chamando meu nome com biscoitos e leite, entusiasmada como menina.
Retiro as fotografias do bolso e contemplo a vida que tivemos.
Dou outro impulso e fecho os olhos. Duas fotografias, foi apenas o que restou.



"Eu sei e você sabe
Já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo
Levará você de mim;
Eu sei e você sabe
Que a distancia não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste.
Por isso, meu amor,
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham prá voce!"♪
Eu não existo sem você -
Tom Jobim/Vinícius de Morais

Humano'

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E criou. Custou-me cálcio dos ossos.
Desentranhou em membrana fina de espelho falso, transparente.
Regurgitou. Enojou-se do ser, da cara de sorriso largo, das suas curvaturas.
Arranhou a moldura plástica do arquétipo memorável que era ela.
Preferiu deitar-se sob luz fraca. Cansou-se dos limites do poder acontecer, estar.
Como lago de gelo fosco e traiçoeiro. Ora tão seguro percurso da jornada ora dragão indolente de três bocas, incontáveis faces e dois chifres.
Visualiza a gritante beleza enquanto escreve. Tenta pateticamente sugar sua ténue cor rosa de aparências mais insípidas.
Em contestação, encontro-me nela. E em segredo absoluto resolvo as irresoluções negativas.
Um reflexo mentiroso percorrendo mundo. Atravessa corredores em linha de desvio crescente.
Aquilo que fora outrora forjado na crença de impretérito perfeito ancorado no seu presente contínuo.
Seca a saliva dos pensamentos que lhe saem da boca. Lacrimeja o sal do cotidiano mórbido; evidente.
Sem o ato de desenlaçar o rosto não poderá cuspir-se no papel caligrafado à tinta.
Contendo-me em espaço ampliado. Conto vértebras internas para sentir-me inteira.
E fico em fluxo sanguíneo de circulação.
Sou nada mais que ela própria; própria e singular em minha plural demonstração.
Coexistindo no mesmo corpo, divisando mentes. Ao abrir seus poros em absorção, respeitosamente, fecho em casinha musical os meus. Como pulmões ritmados, regidos por canção. A infantil batuta servindo-nos como marca-tempo.
Quando ela em função do ser expira; resulta em mim em inspiração.


Foto: Deviantart 

Convite'

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Corri desesperadamente por toda a campina. O negrume da noite não permitia que eu enxergasse um palmo a frente do meu nariz. Tropecei várias vezes nas raízes robustas das árvores que cercavam o lugar. Arranhei minhas mãos em cada queda e mesmo com a dor latejante que subia por meus braços não me permiti parar, secar as lágrimas, respirar pausadamente.
Eu queria sair daquela paisagem sombria o mais rápido possível, mas não fui esperta o bastante a ponto de marcar o caminho que me conduzira até ali; pior, eu não fui esperta o bastante a ponto de recusar um convite.
Karl Miller é o garoto mais reservado da escola. Não tem amigos, não tem ninguém em que possa confiar.
Eu já estive no lugar dele há um ano e aquela lembrança me fez querer ser amiga daquele garoto misterioso em seu teor de timidez. Sentia-me ligada a ele de alguma forma mesmo não encontrando um motivo aparente. Ás vezes penso que é o fato dele viver hoje a mesma história que eu vivi quando entrei para a Valenti's School.
Só que a minha aproximação me trouxe a um beco sem saída. Nos dias de inverno, no norte do país, a sol entra em despedida depois das quatro da tarde e resto-nos a solidão da neve no quintal ou os chocolates quentes no calor da lareira. A floresta da região é o lugar mais inóspito e nunca se deve sair sozinha para uma caminhada quando perto do pôr-do-sol. A floresta guarda seus mistérios e ninguém se atreve a procurá-los.
Nesse 20 de Julho resolvi deixar meus amigos de lado e ir sentar-me ao lado do Karl. Nos primeiros dez minutos ficamos calados olhando cada um a sua bandeja com frutas, refresco e uma fatia de torta de maçã. Curiosamente, Karl deu o primeiro passo perguntando-me rispidamente o motivo que me fez largar meu grupo de sempre e sentar ali, naquela mesa afastada de tudo, naquele pior lugar para se fazer uma refeição.
Eu o fitei muito mais do que permitem as regras formais e gaguejei quando disse que não tinha uma resposta e que apenas tinha uma vontade de estar perto dele. Não sei se fui convincente, mas ele não tocou novamente no assunto e me vi fazendo planos para encontrá-lo nessa maldita campina depois da escola.
A neve começa a colar meus pés no lugar, a cada passo fica difícil mexer um centímetro do meu corpo.
Não encontro brecha alguma que possa tirar-me daqui e meu parceiro de aventura se acusa aparecer.
- Quem me dará um ombro amigo quando eu precisar? - ouvi aquela voz conhecida, mas estava rouca pelo mal tempo. Karl estava ali. Eu não tinha certeza das horas que passei esperando, mas sabia que ele não poderia estar naquele pequeno espaço aberto sob as nuvens há muito tempo.
- Karl, onde você está? Eu preciso de você. Por que demorou tanto? Eu estou presa aqui, não encontro uma saída. Onde você está?- falei ficando apavorada por não conseguir visualizar seu rosto e por não saber de onde vinha o som da sua voz.
- Carolina, você não respondeu minha pergunta. - ele falou despreocupadamente como se ele não entendesse que eu estava ferida, cansada e necessitando do calor sadio de uma boa fogueira.
- Karl, escute uma coisa, eu não sei o propósito do seu convite. Não entendo o motivo de me deixar aqui, de me querer presa num lugar onde eu possa morrer. Mas entenda algo: eu estarei com você! Eu nunca senti uma vontade tão grande de proteger alguém, de cuidar de alguém como a que tenho por você. Eu quero ser sua amiga, seu ombro, braços e pernas. Tudo em que possa se apoiar e tudo em que possa confiar. - falei rapidamente, mas usei toda a minha sinceridade. Mentir não me ajudaria a ir embora daquele maldito lugar e em meu íntimo sentia que dar um passo errado agora me custaria a vida.
- Tem certeza?- ele falou sondando-me.
-Sim, eu tenho. E você, Karl? E se eu cair, se eu vacilar, quem vai me levantar? - retribui com uma pergunta. Se essa amizade fosse nascer no meio de uma tempestade de inverno, onde todo o meu corpo doía e sentia o sangue das minhas mãos solidificando-se a cada segundo; gostaria de saber quais eram minhas chances, o que aquele garoto totalmente estranho para mim pensou ao me convidar para aquilo que eu julgava ser meu encontro com a Dª Morte.
- Eu, Carolina. Eu vou. E se eu não bastar, nada mais bastará. Serei tudo para você. - ele disse convicto.
E no instante seguinte senti um braço ao redor da minha cintura guiando-me por um lugar totalmente novo. Um lugar longe das nuvens, um lugar que ainda guardava um pouco do calor do Sol.
- Carol perdoe-me. Eu vi o pavor em seus olhos, mas acredite que você não esteve sozinha em nenhum instante naquela campina. Eu apenas precisava te ter ali, saber o quão fiel e comprometida você poderia ser.
Eu estive a sua procura e mesmo aparentemente solitário eu sabia que chegaria o dia em que eu não precisaria me esconder debaixo desse novo rosto. Não precisaria dessa falsa identidade.
Alisando meus cabelos, secando meu rosto que fora lavado pela neve e limpando cada ferida minha, Karl chorou sua lágrima solitária.
- Agora durma! - ele disse sério e impassível de contestação.
Aconchegando-me num possível sonho pude ouvi-lo sussurrar:
- É você, na verdade, quem salva minha vida. Eu sabia que essa amizade aconteceria que toda a minha dor chegaria ao fim. Agora posso alcançar a plenitude.
- Agora eu posso sentir-me completa. - falei sonolenta, no nosso abrigo improvisado, enquanto era arrastada a um sonho próximo da realidade, onde eu estava jogada num poço fundo e completamente escuro e que apenas o som de uma voz conhecida poderia resgatar-me dali.

Mais uma colocação!!!

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É isso. Fiquei feliz por ter ganhado, mas não foi em 1º, a edição musical da semana passada.
O selinho ficou perfeito!!! O mais legal depois do selo que teve como foto duas cerejas.
Quem quiser conferir o selo e o texto vencedor, é só clicar em "Destaques" e olhar o texto e os outros textos participantes da comunidade. Lembrando que a diferença da nota estava em centésimos e que todos os textos estavam ótimos. A Juh [Bloínques- comunidade] deve ter sofrido muito para dar uma nota justa e escolher o vencedor.

=*

Espelho vivo' Parte III

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Não o você do meu pesadelo, não quem eu havia enterrado e quem como um vampiro me sugou até minha última gota. Mas vi você. E só nesse instante eu enxerguei, ouvi e senti verdadeiramente tudo e todos ao redor. Estava viva de novo! Não porque dependesse de algo ou alguém para me ressucitar ou para estalar os dedos me fazendo sair daquele passado hipnótico, mas foi porque em seus olhos eu vi meu reflexo, me vi morta-viva, ensone e foi na profundidade do seu olhar que me encontrei... em seus olhos preto-verde.
Eu sabia, agora sabia! Eu não morrera de fato porque você não deixara.
Foi você que me encontrou depois que ele foi embora, você me guiou todos os dias no meu caminho de volta, no meu caminho pra casa. Secou cada lágrima minha e me manteve em pé em cada ataque de fúria.
Me protegeu do perigo que era eu mesma. Me protegeu do perigo que eram os outros. Só por sua causa eu não me bati num poste nem atravessei a rua na frente dos carros.
Desculpa se não fui capaz de ver isso antes, mas agora eu sei. Somente você permaneceu depois que os outros se foram.
Pela segunda vez olhei em seus olhos e o que vi: não a velha garota entusiasmada e bem disposta, não a garota morta e tão pouco a garota zumbi. O que enxerguei naquele poço preto-verde foi a garota na qual havia me transformado; a garota oca!
Naquele momento compreendi que seria necessário desenterrar o passado, curar minhas velhas feridas, resgatar meus sentimentos, gritar por socorro sempre que precisasse, amadurecer, me tornar mulher.
E o que sou agora: um amontoado de vivências, um punhado de perdas, um agrupamento de firmeza em outro agrupamento de pessoas, uma gota de solidão, um monte de coragem, uma nuvem de saudade, um feixe de luz de quem fui, um oceano do que serei e uma certeza em você.
A velha caixa continua enterrada no quintal e, o que mudou foi que sai da sepultura que havia cavado para mim.



PS: O texto é enorme assim mesmo. Por isso eu organizei em 3 partes para não ficar cansativo. =*

Espelho vivo' Parte II

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Você levou tudo... só me restou enterrar você. E eu o fiz. Não houve dor, choro, ódio, culpa, sentimento de perda, palavras minhas, nem aquela lágrima solitária que você secou antes de me virar as costas. Não houve nada, pois já não habitava sentimento algum em mim, enterrei- os com você. Sem me importar para meus joelhos sujos de terra, minhas mãos ou meus sapatos, subi lentamente, degrau após degrau, a escada que levava aos quartos. Era um conforto ter um quarto só meu. Tirei meu tênis sujo, minha roupa, dirigindo-me ao pequeno banheiro que meus pais construíram para mim quando fiz 12 anos; era simples, as louças azuis e o piso branco. Meu banho foi rápido, minha intenção era me livrar de qualquer vestígio... vesti a 1ª roupa limpa que encontrei.
Ninguém subiria até meu quarto, ninguém abriria a minha porta. Acordei na manhã seguinte - eu estava acostumada a não sentir fome - dormir por muitas horas já não era uma obrigação, já não o fazia para fugir, simplismente estava cansada, sem forças.
Minha única obrigação agora era me manter viva, firme mesmo que aparentemente. Era meu primeiro dia longe da prisão torturante que a sua lembrança me causava. Depois de você eu não pude ver mais as cores, os rostos e nem ouvir o som de palavra alguma. Eu só estava lá entre os demais como um poste, um banco ou qualquer outro objeto inanimado. No meu caso: respirava. Mas eu decidi viver! Então resolvi fazê-lo como um todo.
Seis meses após o se enterro me forcei a enxergar... três meses depois já ouvia os sons e com quase um ano reconhecia e falava com as pessoas ao redor. Pessoas que ainda me eram estranhas, mas um dia foram meus amigos...e seus também. Eles, assim como, sabiam a verdade: você levou tudo de mim até não restar mais nada!
Me usou como um cão sedento usa seu dono necessitando de água, raspou de mim da mesma forma que uma criança raspa uma tigela com doce até não sobrar uma grama qualquer. Eu não os culpava, nem em você eu pus a culpa. Ela era minha. Toda minha. Depois que te enterrei não a sentir mais.
Contrariando a todos eu te escolhi e precisei pagar um preço. Perder tudo. Agora eu tinha consciência, minha mente não estava submergida em lembranças e nem obscura com a sua falta.
Eu estava bem, não totalmente viva, mas bem; até me pegava sorrindo vez ou outra. E como se estivesse acordando de um pesadelo onde tudo é tumultuado e confuso e onde por mais que se corra não se chega a lugar algum, eu vi você!

Espelho vivo'

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Há algum tempo atrás enterrei no quintal de casa, debaixo da árvore apodrecida que meus pais se recusavam em arrancar, uma ciaxa velha. Não decorei a caixa como a maioria das pessoas costumam fazer ao enterrar algo especial, colocando meticulosamente seus pertences numa caixa insuportavelmente enfeitada. O que eu enterrava naquela cova -nem funda,nem rasa- não era especial, não era bom, não era algo que eu pudesse conviver. Eu não poderia coexistir com isto.
Ninquém notou quando eu me ajoelhei na terra ainda úmida pelo orvalho da noite passada; meus pais estavam ocupados demais em suas tarefas costumeiras para observar qualquer atitude estranha ao redor e meus irmãos sempre estavam dispersos em suas agressões mútuas ou, paradoxalmente, entretidos em um jogo novo no computador. Eu sempre fui a mais distante nesse quadro pintado e malfeito que era minha vida. Ao menos, eu não precisava ser ainda mais discreta que o normal, ninguém nem chegaria perto de notar a minha ausência. Encontrei encostada na parede dos fundos uma pá usada na manutenção da pequena horta um pouco afastada da sombra que os galhos secos e retorcidos da árvore produziam. Foi com esta pá que abri um buraco necessário para se enterrar uma caixa. Fiquei grata por ser cedo e grata por o calor do Sol ainda ser suportável. Eu não iria resistir a outro dia como este. Não precisava verificar a caixa, eu nem precisava me despedir, sabia que ali dentro estava tudo que eu não precisava mais, tudo que um dia havia sido essencial e que agora mata-me um pouco mais a cada pôr-do-sol.  Eu estava morrendo! Sabia disso e sentia o fim com cada célula do meu corpo. Não era um morrer físico, era pior. Morria em mim, morria para a garota entusiasmada e bem disposta que havia sido. Você me levou tudo...
Levantei apoiada na pá e com muita pressa enterrei todas as promessas de um futuro feliz.
E no momento em que te enterrei decidi viver! Eu dicidi, mesmo que fosse só um reflexo pálido de quem eu sabia ter sido há extamente um ano. Há 1 ano... 1 ano, você me beijava... sussurrava meu nome e com toda convicção me dizia 'adeus'.

Expressivamente'

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No rebolado ao andar na rua.
Na discussão por pinga num bar.
No amor entre casais.
No afago de mãe.
No colo de pai.
Expressivamente.
Devora-me com o olhar.
Beija-me até me perder.
Recomeça tudo ao me achar.
Em poesia;
Em conto;
Em verso.
Até nada meu sobrar.


- último conto/poesia com tema : "a mente".


A mente humana é um mistério. E até para mim, que costumo me entrelaçar diariamente com seus caprichos, ela chega em passadas desconhecidas.
O importante não é a mente em si, mas as tramas que promovem os atos e faz de cada tear um lugar de compor e repor sem esforço, moldando apenas convicções no cume de exprimir fantasia. - R.C.S.

Não poderia ser de outro jeito'

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Há muito tempo eu e Luise somos amigas.
Costumávamos jogar pedras na piscina da minha casa apenas para fugir da monotonia.
Luise esteve ao meu lado quando eu perdi meu primeiro dente numa queda de bicicleta, segurou minha mão quando eu arranhei meu joelho no futebol da escola e me deu uns bons puxões de orelha quando dei um palavrão inesperado devido a nota baixa na minha prova de português.
Nossas mães foram amigas na faculdade, casaram-se com seus primeiros namorados e até hoje, vivem suas vidas felizes de conto de fadas. Quando nossas mães descobriram que ficaram grávidas na mesma semana e que teriam filhos em datas próximas, planejaram todo o nosso futuro. Emilly teria uma linda filha de nome Luise, loira e esguia, enquanto minha mãe teria um bom filho, corajoso, amoroso, alto e forte. O que ela não esperava é que a ultra-som enganaria a todos. Então somos nós, duas amigas, duas irmãs e nada dos planos de casamento de nossas mães.
Luise sempre fora a filha ideal, a querida das duas casas. Eu, Melissa, sou na verdade, uma substituição tosca de filho. Minha mãe nunca superou o fato de não ter tido um filho homem, de não poder unir em matrimônio uma amizade tão antiga quanto a dela com a Emlly. Mas eu não tenho culpa, nunca terei. Eu não determino o futuro, eu não escolho os caminhos que segui Deus, ciência, genética ou qualquer outra concepção sobre o fato.
Na verdade, eu não gostaria de ser um garoto se pudesse. Luise nunca seria minha amiga, confidente, irmã e principalmente minha cumplice na caçada aos garotos se eu fosse um.
É por isso que nos damos bem e sendo assim, não há motivos para querer mudar.
Um certo dia, eu ouvi meus pais conversando sobre o assunto, falavam como teria sido doce um filho homem, falavam também em como eles educariam um menino para ser o cara perfeito. Em meu esconderijo só pude pensar: - mãe, pai, não existe ninguém perfeito, e talvez ele nunca enxergasse Luise como uma garota para se namorar, ele poderia muito bem ver a Luise como eu vejo, como uma irmã magrela e sem graça. Mas isso são os meus pensamentos e nada pude fazer para demonstrá-los.
Meu papai perguntou-me sobre ter um irmão de verdade numa noite de natal. Ele queria saber se eu seria mais feliz com alguém para dividir meus dias, meus sonhos, meus planos. Alguém para brincar na rua e contar histórias quando estivesse chovendo lá fora. Ele falou sobre compartilhar com alguém as experiências que eu adquirir ao longo dos anos e disse-me que esse 'irmão' estaria sempre presente quando eu precisasse.
A minha resposta foi direta: - Pai eu já tenho tudo isso, eu tenho alguém que nunca sairá do meu lado, alguém que sabe de mim quanto eu mesma. Pai, mas você acha que eu não posso ver que na verdade eu não sou a filha certa para vocês. Você acha que eu não percebo que tudo em mim é um grande erro e que na verdade eu não deveria ter nascido. Vocês sonharam com um garoto de cabelos cacheados e olhos azuis e não uma garota ruiva desbotada com pintinhas por todo o rosto. Eu sei pai, eu escuto o choro da mamãe à noite e sei que ela nunca vai me amar como ela ama esse filho que nunca existiu.
Ele se inclinou para um beijo em minha testa enquanto sorria de algo que eu não entendi.
Disse-me que eu ficaria bem do jeito que estava e que na verdade quem não percebia as coisas era ele e a mamãe e que eu tinha tudo que precisava: uma amizade sólida e verdadeira.


- Edição Musical -

Notoriamente'

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Nada de rabiscar palavras hoje.
Contar se estou bem ou mal.
De choramingar sonhos e de remover a canivete os tantos conceitos teus.
Nada de rasgar papéis e rubricar falsas expressões.
Nada da maioridade e muito menos das complexas obrigações.
Como um fio de linha singelo, mas eficaz.
Tece o calor que aquece o corpo e cobre a parte íntima que é a face.
Nada de universalidade também e sem nada dos grandes mistérios além mar.
É um momento daqueles onde se desamarram as sandálias dos pés, onde se põe um chapéu na cabeça e se permite contemplar.
Uns fitam o chão a cada passada, outros assim como eu, ficam obsoletos em contemplação.
Agarrando a paisagem e bebendo sol para não perder existência.
Nada dos voos altos.
Nada da conotação de textos.
Nada de cuspir rancor e alternar entre o amor e a solidão.
Uma mulher em sua sabedoria registrando o tempo como pode.
Uma menina sentada tranquila a fitar cuidadosamente as outras crianças na rua.
Um ser que mapeia o outro, porque às vezes é melhor ir em caminho de outro do que no seu próprio.
Nada de similaridades ou identificações.
Perdoe-me a sua confusão mental, afinal, o acontecimento é real e, eles são meus e não seus.
 
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