Taylor
Pádua, Itália, 8 de Janeiro, 2010.
O Bar do Taylor é o único estabelecimento que se aproxima deste século. Os móveis rústicos de madeira são ostensivos quando comparados ao Jukebox e ao balcão de bebidas exóticas. As garçonetes são italianas legítimas e se não fosse o cheiro de charuto importado e álcool barato eu poderia me sentir em casa. O presente disputando espaço com o passado como na minha casa em Roma.
Taylor serve de macarronada ao molho com almôndegas à batatas-fritas e hamburguer. É um homem simples e robusto com um ar americano e sotaque francês. Taylor é admirável se você esquecer as mangas da sua camisa sempre manchadas por um líquido vermelho.
Não tolera brigas dentro do bar e aproveita as horas que passa na presença dos estudantes da faculdade de Pádua para exercitar seu lado paterno com as jovens. Dizem as más línguas que sua mulher fugiu de casa grávida e nunca mais alguém soube notícias dela ou da criança. Por trás da máscara gentil e hospitaleira é um homem amargo que sabe intimidar quando é preciso.
Na faculdade, as garotas costumam marcar encontros nesse lugar e em meus dias de folga do Bacco aproveito para me divertir observando minhas colegas de classe totalmente desajeitadas quando o assunto é paquera. Ficam vermelhas ou mudas e por fim, os garotos cansam arrumando qualquer desculpa para escapar do tédio.
Entre uma observação e outra sobre o que não fazer num encontro que eu percebi a figura pálida em pé no canto mais escuro do bar. A luz escassa não revelava o rosto, mas pela altura e estrutura física eu poderia me mostrar interessada.
Alguma coisa naquele rapaz tirou minha atenção da coca gelada sobre a mesa e dos risinhos infantis das outras garotas.
Mesmo não vendo o contorno do rosto, a boca, nariz e olhos eu podia sentir uma onda eletromagnética emanando da face me atraindo como um imã, deixando meu corpo eletrizado.
Algo naquela sombra não permitia que eu desviasse o olhar e sem a minha percepção habitual eu entrei num transe hipnótico.
Apenas quando uma das garotas chamou meu nome eu pude piscar voltando ao mundo real e parecer concentrada na conversa sobre os garotos do quarto semestre de filosofia.
Agora tento parecer animada exagerando nos comentários e concordando com a cabeça quando alguém diz que ter um namorado em Pádua pode ser maravilhoso.
Mas eu não quero um namorado, não quando se tem a máfia como família e as suas regras sem sentido. Não quando meu melhor amigo está em outro continente.
Deixo que a conversa passe para temas supérfluos numa tentativa de entender o que acontecera a mim minutos antes.
3 Comentários:
Está ficando mais envolvente. Estou gostando muuito. Além de estar muito bem escrito.
Grande Beijo
Estou meio atrasada aqui, ando sem tempo muitos trabalhos...Mas eu não aguentava de curiosidade e estava louca pra lera continuação que está cada vez melhor ;)
muito bom MESMO.
vou pra parte 6
beijos!
Envolvente, estou ansioso. A mãe me chamou pra gente brincar de fuardar revistas e filmes, depois eu volto pra terminar ;D
Tá cada vez mais envolvente, se fosse o conto todo de uma vez em um post, a leitura seria ainda mais magnética.
Postar um comentário