A bagagem havia sido arrumada cuidadosamente na quarta-feira, dois dias antes dela precisar partir. O gato de estimação foi deixado aos cuidados da vizinha Maria Lúcia e com o porteiro, a responsabilidade de manter viva a sua samambaia da sorte. Não sabia para onde ele a levaria, não imaginava o que era a tal surpresa.
Abriu a porta logo após as três batidas costumeiras, deu-lhe um beijo no queixo, entrelaçou sua mão direita na mão esquerda do rapaz amado levando consigo a mochila presa no ombro enquanto ele carregava a mala, agora pesada, de viagem.
O elevador sacudiu um pouco, rangeu e seguiu em sua normalidade para o térreo. Conversaram sobre o dia que passaram longe um do outro até aquele momento, o que fizeram logo após os beijos dados ainda em frente a porta do apartamento dela; amenidades...
Ele girou a chave na ignição fazendo o motor roncar alto expulsando uma fumaça preta que encheu, por um minuto, a visão dos dois passageiros despreocupados que sorriam um sorriso quase sem graça da poluição ambiental causada pela Kombi velha.
Deram ali seu primeiro beijo, tiveram ali sua primeira noite de amor; nenhum outro carro os teria feito tão bem apesar das circunstâncias atuais. O moço soltou o freio de mão, afrouxou o pé na embreagem seguindo rumo ao litoral.
Ana delirava com o mar, as ondas quebrando na borda do Atlântico, as várias tonalidades do verde já se misturado ao azul e por estar ao lado do homem que lhe roubava o fôlego apenas com uma piscada de olhos. Delirava com o quanto a pele dele poderia ficar mais nítida a cada novo gradiente de cores dos raios quase findos do sol. Extasiava-se com a mudança daqueles olhos castanho-escuros para os poços rasos de um mel avelã.
Desabotoou um pouco a camiseta permitindo que o vento quente que soprava pela janela aberta em seu rosto fosse o seu alerta para a vida, se morresse ali com ele ao lado e todo o litoral ao alcance; morreria feliz.
Agora entendia o motivo da mochila de Camping, a barraca, o colchão de ar. Ele estava pagando a sua primeira promessa: acampamento; e pelo visto, com juros e correção monetária.
Marcos parou a Kombi 1960 entre os coqueiros baixos, estendeu a esteira de palha sobre a vegetação rasteira, armou a barraca, prendeu a rede.
Deitaram enroscados na rede na velha praia Woodstock, próximos a um punhado de casais, como eles.
Todos permaneceram contemplando a grandeza do pôr-do-sol dos fins de tarde de verão, menos o nosso casal. Eles permaneceram imóveis por muito tempo, protegidos pelo invólucro do amor eterno.
- Eles ainda eram crianças quando se olharam pela primeira vez.
9 Comentários:
Bell, suas palavras foram uma delicia de ler, me prendeu fácil.
Amei, beijos flor.
Simplesmente lindo. O que pode acontecer em um carro, não? Apaixonei-me por esse conto. ♥
Bells,gostei muito , sua criatividade é incrivél, muito bem escrito , enfim apaixonante!
Muito lindo! :)
Beijos!
Gostei muito do texto, achei muito bem escrito e com um clima de romance muito amável!
Parabéns pelo blog, gostei de verdade.
E obrigada pela visita em meu blog :)
Beeijos ;*
LINDO! Que história maravilhosa Bell, parabéns!
Beijos.
obrigada pelo carinho!
adorei o texto.
seu conto e a maneira no qual foi contado.
E a maneira como,conduz o leitor a continuar lendo,sem querer parar ou interromper a maneira leve que faz com que agente leia seu conto, e que acabe gostando de como você transforma as palavras.
boa sorte na edição visual do bloiques D:
Realmente você escreve maravilhosamente bem, genial esse texto; espero que você tenha ganho no projeto bloínquês, muito bom, parabéns!
Beijos com carinho!
http://falando-peloscotovelos.blogspot.com/
Postar um comentário