Dez para o meio-dia, a panela chiando no fogão e o meu gato lambendo a água na tigela.
Olha-me de lado e volta a beber sua água; mexe o rabo e redireciona as orelhas espertas, feito antena, aos sons na cozinha e da casa. A panela reclama mais alto, eu coço o nariz, olho minhas unhas mal pintadas e volto a escrever; escrever sobre o meu filhote de homem-gato que me espera toda manhã na porta do quarto para que eu coloque a sua ração no prato. Mia baixinho no meu ouvido antes de se aninhar no meu colo, esperando que eu lhe coce a cabeça, o pescoço e a barriga sempre cheia.
A barriga do gato é seu mistério; mesmo quando no passado eu dizia ser os olhos. Mas de tanto sugar da sua órbita azul, conheço-lhe os gostos, os pensamentos e o humor.
Agora a barriga, não. É mistério demais para a minha pequena cachola! Tem dias que ele entra no quarto comigo após meu banho e me ver vestir a roupa numa curiosidade além-mundo; outros dias se delicia no calor da minha cama ainda quente, deixado pelo corpo recém desperto.
Fita-me com meia banda da cara, olha entreaberto enquanto jogo a roupa no chão, pego a toalha e vou lentamente em direção ao banheiro; após a primeira peça de roupa ir ao chão, faz pouco caso e volta a dormir.
É tão manhoso quanto à dona. Morde meus pés quando quer carinho e atenção, e eu mordo o meu namorado quando quero o mesmo. Crava as garras na minha pele se ameaço parar o movimento da mão gentil no seu pêlo branco e eu sempre arranho a pele do meu namorado quando ele ameaça afastar seu corpo do meu.
Somos parecidos. Ele sério em pensamento e disposto a rebolados e eu, toda rebolados e vadia em pensamento. Não vulgar e sim, desinteressada.
Meu gato-homem ronrona só de me ver e eu ronrono eufórica sempre que meu homem me devora com paixão; seus olhos que tudo comem...
Meu gato deita igual gente: pende a cabeça para o lado, barriga para cima, rabo enroscado e patas espalhadas. E eu fico feito bicho calmo, quieta, imóvel. Acorda ele bola nas noites que dividimos a cama e eu, acordo do lado oposto ao qual dormi. Pernas para fora, travesseiro no chão; somos parecidos.
Ganhei-o ano passado da minha segunda mãe; o mais bonito de uma ninhada.
Alguns meses de idade e eu o coloquei debaixo do braço trazendo o não tão felino para casa; miava feito condenado. Miou sem parar por um mês e fiquei a me achar criminosa por tê-lo separado da mãe.
No final, acostumou-se a casa se metendo a cochilar sobre as camas. Ama a todos, menos ao meu padrasto; a esse criou aversão. Amou mais ao meu irmão do que a mim, mas Nino foi embora morar com o papai. Minha irmã o aperta tanto que os olhos, por triz, não pulam fora; restou-lhe a minha mãe que lhe tem alergia e a mim, que lhe faço as vontades. Apegou-se à sua dona legítima desde então.
Creio que não me perdoou por separação materna tão violenta, mas aprendeu a distrair-se com amenidades assim como eu.
A nossa maior diferença é que ele fica contente com qualquer afago, brincadeira, perda de tempo. Já eu quero tudo em dobro, sempre mais que muito e, meios gestos são brinquedos que não me fazem perder a calma.
Por hora, chega; meu gato pede o cumprimento dos meus deveres e sou por deveras boa para negar-lhe um pedido assim: bem feito.
- Para os dois felinos da minha vida: Fred, meu gato de aproximadamente um ano de vida e Deivid, meu leonino maior de idade.
4 Comentários:
Acho interessante, quando as pessoas tentam e gostam de demostrar seu amor pelos animais,seja gato, cachorro enfim.
mesmo eu não gostando, eu respeito aqueles que gostam e como as pessoas demostram carinhos pelos seu animais de estimação.
Oint, achei muito bonitinho o texto. Tantas coisas sentimos com nossos gatos, que podemos realmente chamá-los de gato-homem (não que eu já tenha tido um gato, érr). Amei *U* E o Fred é muito fofo :3
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Ah, e obrigada pelo comentário! Estás convidada a aparecer sempre que quiser. ♥
Ah, que texto ótimo, gostei mesmo das comparações com o gato, das declarações de amor e afeto ao seu gato e seu homem, hehe.
Muito bom...
Bjs =)
O animal às vezes se parece com o dono.
Muito fofo teu texto. (:
:*
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