Salvador, 26 de Outubro de 2010.
Caro T.,
Algumas palavras não foram criadas para brincar na boca dos homens; não deveriam ser pensadas e não podem ser pronunciadas.
Se fôssemos sábios, algumas palavras ficariam presas em seus verbos, em suas terminações imperfeitas
ar, er, ir.
Sempre no futuro, inalcançáveis por serem individuais. Não todas as palavras obviamente, só algumas.
Àquelas palavras infiéis, dolorosas, mentirosas, ilusórias; palavras enraizadas no coração tolo que não gera semente fértil capaz de fincar o coração do outro à mesma terra.
Vai parecer estranho, depois de tanto tempo, você ler isso. Não sou corajosa, nunca fui. Guardei em mim um amor maior do que eu podia suportar.
Tentei rabiscar-lhe palavras honestas, mas a tentativa não passou de um querer leviano, como agora...
Toda a gramática é ingênua, menino. Infantil perante a cobiça dos meus olhos, cheia de meninices sobre a face das nossas conversas.
Demorei a entender que este amor permaneceria, para sempre, com a locutora. Não culpo o meio usado tão pouco, à distância.
Era as minhas armas, a minha chance, o canal que me ligava a você; e eu os usei como e até quando pude.
Machucou, é verdade. E continua ardendo feito ferida mal cicatrizada. Olhar-te, mesmo de longe, sabendo que os seus lábios são de outras que te amam menos, é enlouquecedor.
Platônico, esse amor que tenho. Apenas meu.
Talvez um beijo cure o que eu sinto ou talvez, o tapa nunca dado na tua face por amar a minha melhor amiga.
Da engenheira que não cursa Elétrica.
Para o garoto que ama sorvete de flocos e futebol com os amigos.