Pandora.

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"- Proteja-a! - gritei. Virei-me e apontei.
Foi retirado um véu que durante toda a minha vida estivera suspenso entre mim e as coisas. Agora na cor e na forma reais, elas manifestavam sua finalidade: a Rainha olhava à frente, imóvel como o Rei. A vida não poderia ter imitado tamanha serenidade, tamanha paralisia. Ouvi a água pingando das flores. Gotículas batendo no chão de mármore, uma única folha caindo. Virei-me e vi, enrolada e balançando nas pedras, essa folhinha. Ouvi a brisa passar embaixo da tenda dourada do teto. E as lâmpadas tinhas línguas de chama para cantar.
O mundo era uma canção tecida, uma tapeçaria de música. Os mosaicos multicoloridos refulgiram, em seguida perderam toda e qualquer forma, depois até o padrão. As paredes se transformaram em nuvens de uma névoa colorida e acolhedora, dentro da qual podíamos ficar vagando para sempre.
E lá estava ela sentada, a Rainha dos Céus, reinando sobre todos numa imobilidade suprema e tranquila."

Crês que há um só Deus. Fazes bem.
Também os demônios crêem e tremem. - Tiago 2:19

As crônicas vampirescas. Pandora - Anne Rice.

Verdade fragmentada.

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Deparei-me com este fragmento brilhante de verdade, atraente, decididamente exagerado. Ocorreu-me formas de pegá-lo, formas de usá-lo, inusitadas variações de como possuí-lo. A minha intenção era das melhores, admito, o momento é que não me pareceu oportuno.
Verdades fragmentadas sempre trazem muitos prejuízos e por mais que minha cota de boa vontade, disposição e compromisso ande sempre em alta prejuízos não são meus melhores amigos.
Confesso que vê-lo brilhando atiçou esse meu olhar de criança, mas a maturidade se fazia necessária e foi preciso lidar com isso. Mas que o fragmento era bonito, isso ele era! Ficou ali, me acariciando a face, só pra ver se eu resistira aos seus encantos.
Por fim decidi guardá-lo junto aos outros objetos de procedência duvidosa, quem sabe eu não encontro os fragmentos que faltam para fazer dele uma verdade inteira?

Quem somos agora?

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[Re]Pintei nós dois.
A tela gasta dos meses que passamos juntos merecia nova cor.
Atualizei a trilha.
Andava farta das músicas que embalaram o começo do nosso romance; hoje somos mais do que simples apaixonados.
Afundei na sorte.
Sorte de encontrar alguém melhor em alma, mente e coração.
Prendi a chuva.
A chuva de outro que me sondava as emoções.
Apurei o foco.
O mar em minha frente é todo o oceano dos teus olhos verdes sobre mim.

[Re]Pintei nós dois
Como tantas vezes fiz,
Nesse nosso espaço de tempo,
Nessa brincadeira de criança.
Usando giz de cera para colorir o chão onde novas portas são abertas e o que temos é a coragem de fechar os olhos e entrar sem pensar em mais nada.

Aracaju - Sergipe. Dezembro/2011

O que disse ontem.

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Não é nada daquilo que eu julgava ser.
As roupas ainda estão empilhadas no armário, os sapatos ainda se perdem embaixo da cama.
Não é o que eu queria ser.
Ainda perco tempo dizendo besteiras, ainda me dedico menos ao que importa.
E quando dou por mim estou presa no mesmo laço, circunscrita na mesma história.
Nada dos sonhos, nada do hoje; sem agora.
Apenas um lapso do que gostaria, uma doce lembrança do que era outrora.
E que deixe estar, eu vou voltar com a minha cara, com as minhas roupas e o meu desejo.
Para escrever mais uma vez meus medos...
Para falar novamente o que há no mundo, e pôr na mesa as cartas da minha vida.


Em 04 de Maio de 2001
No meu querido Insensatez

O coelho saiu da cartola.

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"Eu tive um sonho, vou te contar. Eu me ativada do oitavo andar e era precisa fechar os olhos pra não morrer e nem me machucar."

Depois de meses curtindo ausências eu sonhei com ela. Veio chorando com um sorriso enorme nos lábios e olhos grandes e gordos que só ela possui quando chora. Olhou-me fundo como quem procura ver através do poço nos meus olhos e eu lhe sorri com aquela agonia de coração ferido, de espírito aflito.
Sorri e olhei com toda a minha vastidão de pensamentos e com a confusão do sonho que queria ser real. Ela ali, parada ao meu lado, me olhando nos olhos e com os olhos cheios de lágrimas e eu ali, sentada ao seu lado com o cenário alternando entre escorregadeira, muro e escada. Eu sentada no alto e ela me olhando de baixo pra cima com o seu sorriso choroso na cara.
Cena mais estranha essa do sonho, sonho mais estranho esse de ontem à noite. Noite mais calma essa que eu tive e um perdão que ela disse que não me sai dos ouvidos.
Mês passado ela sonhou comigo, agora eu lhe retribui o benefício...
Depois de meses curtindo ausências é de se espantar a profusão de sentimentos. Afinal, o que existe é um mero desprezo entre nós.
 
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