A minha infância foi marcada pela presença sempre constante da minha mãe e as visitas esporádicas do meu pai; e parece recalque escrever isso, mas esse fato nunca significou um verdadeiro incômodo. As coisas eram do jeito que eram. Os sentimentos da infância ficaram guardados no melhor que existe em mim. A casa, meu quarto, o cheiro das coisas, as brincadeiras na praça, meus vestidos de princesa, todos os quebra-cabeças, os livros, a escolinha do bairro e toda uma infinidade de detalhes permanecem no melhor que trago por dentro; a minha base, meu solo fértil, o que me move e o que deveria me orientar...
Mudar é bom quando a hora chega. Quando o lugar já não acolhe, quando a casa parece estranha aos olhos mudar é tudo de bom.
- Mudamos! - Mãe, irmãos, eu e as coisas. A casa nova não era lá grande coisa, mas o que seria dos homens sem o recomeço? 'Adaptável', uma expressão que também pode ser utilizada para me definir... Não 'mutável', não 'altruísta', apenas 'pessoa que se encaixa com facilidade'. Mudar é bom e isso eu já disse. É só.
Como eu li num livro que muita gente leu "a infância é o reino onde ninguém morre". - Morri! Cresci! - acontece. Crescer é algo estranho quando se é composto por opostos. Quando a mesma força que te impulsiona te atrai simultaneamente para o polo Sul e o polo Norte. Crescer é uma força incontrolável da natureza.
O tempo corre 2x mais rápido. As expectativas são 2x mais diretas. As cobranças, os erros, os medos e as dúvidas te tornam mais suscetíveis ao fracasso. E tudo isso enclausurado dentro do peito esperando para explodir, e quando explode Adeus, Lenin! Quando se cresce assim de uma só vez todo caminho é um caminho sem volta já que voltar exige vontade e juízo.
Até que um dia eu olhei para dentro de mim e aqui fiquei. E me expus. Dei a cara à tapa. Baixei a guarda. Entretive-me e diverti com outras coisas que não fossem eu, com outros sonhos que não fossem os meus, com uma realidade que não senti, apenas vivi. Todo motivo é plausível, mas não vale expô-los à mesa. Um bom jogador não revela seus trunfos - jamais! Toda essência de dois polos um dia aflora e esperar que os polos não exerçam com igual intensidade sua força é ingenuidade. E até na mais insignificante das flores é possível encontrar traços de verdade - genuína singularidade!
Como diz o ditado 'depois da tempestade sempre vem a calmaria' e maturidade tem para mim esse significado até que venha a próxima tempestade e coloque tudo abaixo. A maturidade é uma barricada que construímos para levar, por nós, os tiros que são destinados ao alvo: a criança que um dia fomos. E quando eu me olho no espelho e vejo, sinto, vivo essa força incontrolável de que fui e sou feita não tenho medo de me revelar. Não mais!
A minha Dualidade não é uma escolha; é o que sou. É o material genético que carrego, e mesmo acreditando que eu teria sido mais feliz fazendo o oposto do que fiz, sinceramente, eu não
consigo conceber alguém que se aproxime mais da minha verdadeira natureza do que essa que vos escreve agora. Toda reviravolta é só outro ponto de partida.
- Assim são as vozes que há em mim.
{Tela: Rogério Fernandes}
2 Comentários:
Confesso; o título, o estilo e o tamanho da letra, nada me atraíram e nem mesmo o tamanho do seu texto rsrs
Mas depois de lê-lo Bell, me deu uma angústia, uma vontade de chorar, você de uma forma diferente de todas as outras, conseguiu tocar dentro de mim, em pontos ocultos talvez...
Muito bem escrito, palavras muito bem escolhidas e dispostas.
Um beijo
Gostei!
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