Desprovida.

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Fala-se do desconhecido com uma convicção de prender ouvinte desprovido. As palavras ditas fluem de tal forma que o ouvinte amigo se deixa embalar e sorrir sem respostas. Fica ali, ao sabor do vento, soprando carismas de não-querer-querendo.
Nesse quer-queira-sim-quer-queira-não vai admitindo sortilégios e pensamentos que não que lhe pertencem, mas que na hora combinam bem com a situação em questão. É uma paralisia momentânea como a que temos quando sonhamos acordados; ele se deixa perder entre vastos horizontes de filosofias contrárias às suas devido à beleza e leveza em que são postos os atos. E todas essas ações somadas não passam de um bolo espesso na garganta, sufoca um pouco, mas logo passa. - Quando não mata!
... É apenas o desconhecido gritando existência bem na cara e a cara flácida perdida em palavras – desprovida.

Para brindar às loucuras dos dias sem dia.

Enquanto o resultado não vem...

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Hoje eu senti um saudade danada de você. Não saudade de saudade, mas saudade da falta de não ter o que há muito se tem.
Pensei em ligar, admito. Mas a ideia logo se desfez. Todas as palavras ditas seriam apenas fragmentos da confusão que sinto dentro dessa sanidade disfarçada. Quem iria me entender? Você?
Você já não me entende, eu já não te entendo e desentendidos estamos desde então. Essa falta desenfreada de ter o que não tenho agora pode ser longa ou passageira, dependerá do resultado da minha lógica numérica.
E enquanto eu não faço todas as somas e subtrações que preciso fazer vou ficar aqui alimentando ausências pra ver no que vai dar.

LISPECTOR, Clarice.

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Confesso que vê-la fragilizada acendeu meu espanto. Espantada não fui capaz de me desvencilhar dos seus tormentos. Todos eles ali, assim na cara, e a cara dura e triste, me esvaziaram de emoção.
Minto! A mentira soa tão verdadeira que dói, dói porque eu sofri com as suas amarguras e seu patético teatro de não saber as respostas para todas as questões foi no fundo uma inocência articulada de quem escreve.
Confesso que toda a sua serenidade não me passou pela cabeça, como a inquietude dos seus dedos que nunca param; os dedos acariciando o couro marrom da poltrona e uma paz esculpida na face.
Minto! A paz era minha por me deliciar com os seus segredos, suas palavras, sua inteligência e com os seus momentos de hesitação. Uma hesitação medida - dois segundos e meio - apenas para compor nova ideia.
Entre colares de contas brancas, cigarros e frases curtas e diretas ela foi para mim, mais do que eu poderia crer possível, Lispector.

{Google}

Impactada com uma de suas entrevistas
 eu não fui capaz de me conter 
apenas em suas palavras. 
Fez-se necessário o uso das minhas
para descrever e acalmar 
os meus próprios fantasmas.
 
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