Sem casa, sem estação ferroviária, sem porto... Sem nada.

A linha férrea se estende traiçoeira sobre os riscos da minha palma.
Vejo o trem Destino entrar nos meus olhos e me trilhar sem futuro.
O êxtase é total, infinitesimal, companheiro.
Escancaro os braços e os lábios e fico à deriva de quem sou, como um navio fantasma perdido no oceano sempre a um sopro de escorregar pela borda do horizonte.
 - Perigo! O aviso é latente, mas pouco importa; prendo a fita vermelha-sangue no cabelo e como sereia ao avesso viro criança e não, mulher.
Existência tóxica, desejo profundo. E em busca do reino encantado parei aqui, neste ponto.
Viro a palma para cima e acho graça do Sol brincando de se esconder e irradiar na minha pele. Sigo as linhas que vivi e escrevo sobre elas o que virá:
“O trem desgovernado que tenho sido desde que.”
Um ‘que’ sem complemento em uma trilha sem volta;
Uma locomotiva das cargas e fardos que trago, por hora, comigo;
Um navio cego frente à queda do abismo;
Um oceano negro manchado até o fundo e um cabelo gasto das mentiras que dele colhi.
Aprecio o “M” perfeito estampado na minha palma, perfeito como a cicatriz feita pelo ferro em brasa.
O “M” da linha da minha vida, o riscado do Criador.
Ponho as duas mãos próximas uma da outra, e feito espelho o reflexo da esquerda é o reflexo da direita.
Iguais e opostas.
Como o dragão que sorri, tatuado em seu pescoço, contemplo quieta e maravilhada a grandeza de me ver tão inteira e desolada. Coexistindo com meus amores e temores no mesmo espaço. Me saciando do mistério de ser tudo e mais um pouco.

8 Comentários:

Mia Sodré comentou:

Sabe, eu ia comentar sobre o post (muito bom, por sinal, você escreve bem), mas tem algo que me chamou mais atenção. O logo do seu blog. É simplesmente perfeito. "A sensualidade está em despir a alma." Tocante, mesmo. Parabéns por um blog tão lindo.
Bjo! (:

http://miasamarah.blogspot.com/

Thais Cristina, comentou:

Muito bom o texto!
Escreves muito bem.
tens uma nova seguidora!

missthay.blogspot.com

Inercya comentou:

O texto e o título me deixou confusa. No mais, achei bem interessante essa tua narração.
Que bom que voltou. Não foi tão breve, mas também não tardou.
um beijo :*

Anônimo comentou:

texto belíssimo, tudo aqui é lindo. Me apaixonei.

To seguindo.

Unknown comentou:

Eu estava confusa mesmo, Laura.

Bih Lima comentou:

Que texto lindo!
Amei o blog!
Beijos

Maiara comentou:

Bem, essa é a primeira vez que comento aqui, mas não é a primeira que venho e contemplo os seus textos. Na verdade eu até já sigo esse blog há um tempo que não sei dizer ao certo. Confesso que as suas palavras têm o poder de sumir com as minhas, é inevitável. Mas sei o porquê, os seus textos são tão ricos em emoções, e o que me resta é observar como um alguém que entra em um museu, passa horas a fio acompanhado pelo silêncio, e sem comentários verbais, sai, mas sentindo a plena satisfação de ter entrado e visto tudo o que precisava ver.
É isso o que sinto quando leio as suas palavras, elas são sempre ajustadas em uma combinação que diz: sinta-me. E por mim elas são sempre sentidas.
Quando li esse texto pensei em sair mais uma vez com as minhas sensações silenciosas, mas resolvi que iria deixar algumas palavras aqui. É satisfatório ler coisas assim, com esses detalhes aprimorados, com essas emoções que ecoam em cada palavra e que ecoam também na gente. Parabéns por esse talento. E irei me esforçar para deixar mais do que suspiros quando eu vier aqui outras vezes.

Beijos.

Unknown comentou:

Obrigada pelas palavras, Maiara. É muito ver minhas palavras repercutindo tão positivamente. Fique à vontade, querida. Este espaço é tão público quanto pessoal. E você é um poço de criatividade, saiba disso!

 
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